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terça-feira, 12 de abril de 2011

FAMÍLIA SAADE I






Alguns sobrenomes árabes parecem iguais, por apresentarem a mesma sonoridade, apesar de grafias diferentes: Saad, said, sad, sade, sadi. Saade, de Bambuí, tem “e” no final, dois “as” e se estabeleceu na cidade na segunda década do século XX, quando ali chegaram Jacob Antônio Saade (Jorge Saade) com sua esposa - Nazira Terzan Bichara - e sua mãe Rachid Saade, depois de terem passado por São Paulo e Guia Lopes. O casal de imigrantes libaneses tinha, então, cinco filhos – Antônio, Elias, Emílio, Félix e Nabiha Saade -; a filha mais nova, Lourdes Saade, nasceu já em Bambuí.
Católica por convicção, generosa e solidária, a família valorizou enormemente a acolhida que teve em Bambuí, onde pode construir uma melhor qualidade de vida; trabalhou muito, estabeleceu relações sólidas de amizade e foi acolhedora com quantos lhe bateram à porta.




Casa comprada por Jorge Saade década de 20




Antônio Saade em compras para o seu comércio.
         
                                
Jorge, um pequeno comerciante, adquiriu a casa que até hoje é da família, onde instalou a sua vendinha. Os filhos mais velhos, Antônio e Elias, ainda de calças curtas buscaram outras oportunidades de trabalho, para que pudessem contribuir no precário orçamento familiar. Elias, trabalhando no Rio de Janeiro, levantou um montante suficiente para adquirir um caminhão, com o qual Antônio, fazendo carretos intermunicipais, reuniu as condições necessárias para a abertura de um comércio melhor - a Casa Dois Irmãos -, que se tornou a fonte de sustento da família.
Antônio Saade cedo se tornou arrimo de família, fazendo dessa causa o seu projeto de vida. Homem simples e de poucas ambições, viveu de maneira conservadora, preocupado que era com o futuro da família; certamente, por ter como pano de fundo as carências da primeira infância na Canastra agreste. Comportou-se sempre como um autêntico mineiro, comedido, silencioso sobre os seus feitos: poucos sabem o quanto ele contribuiu em projetos de cunho social, por exemplo o seu empenho e trabalho na implantação e desenvolvimento da APAE em Bambuí. Faleceu em 2004, com 87 anos de idade, deixando às sobrinhas o compromisso de zelarem pelo conforto e bem-estar das irmãs Lourdes e Nabiha.
Félix e Lourdes viveram com limitações, em virtude de seus  problemas de saúde; o primeiro faleceu ainda adolescente e Lourdes chegou aos 74 anos de idade, alvo que foi de muita proteção familiar, vindo a falecer no início de 2011. Era pessoa espirituosa, inteligente e de muita energia, atributos muitas vezes ofuscados pela “epilepsia”, vista como doença limitadora desde os seus 12 anos de idade. Muito religiosa, manteve sempre acesa a esperança, fundamentada em sua fé inabalável.
Emílio Saade faleceu ainda jovem. “Por ironia do destino, eu voltei ileso de uma guerra mundial, ao mesmo tempo em que o meu irmão teve a morte mais estúpida que se poderia imaginar” - com essas palavras Elias Saade discorria sobre a morte do irmão. De fato, uma morte inimaginável que chocou a família e a cidade: um tiro disparado da espingarda de um amigo em uma caçada.
Nabiha Saade é a única sobrevivente dessa família nuclear. Com mais de 80 anos de idade, vive em Bambuí. Sempre foi uma pessoa ativa, trabalhadora, cuidadosa com a família, com os amigos, com os seus alunos, com as pessoas em geral. Professora no Grupo Escolar “Antônio Torres”, ensinou a muitas gerações, até a sua aposentadoria. Hoje, idosa e debilitada, é dependente de cuidados.  
Elias Saade nasceu em São Roque de Minas – então Guia Lopes, em 14/11/1918. Foi para Bambuí com a família quando ainda criança, ali estudou, e adotou a cidade como sua terra natal. Entendia que Bambuí nunca havia sido “olhada com maior carinho pelos altos poderes do país e que todas as suas conquistas se deviam à grandeza e ao trabalho dos bambuienses” (palavras de Elias). Dessa forma, participou de todos os movimentos que pudessem significar crescimento para a cidade e benefícios para a população, tomando, ele próprio, iniciativas e conduzindo  projetos de relevância social.
Integrou a Força Expedicionária Brasileira, participou da II Guerra mundial, como voluntário, atuando no teatro de operações na Itália, de outubro de 1944 a agosto de 1945, incorporado ao IIº Regimento de Infantaria; licenciado do serviço ativo, ingressou na Reserva do Exército Nacional 



 Elias Saade 1945.


Bambuí recepcionando os ex- combatentes .
      
                                                                  
Retornando à sua terra, Bambuí, ingressou no serviço público, casou-se, constituiu família, engajou-se como cidadão bambuiense – tendo atuação política, social, cultural e educacional -, dedicou-se aos esportes, especialmente ao futebol, sua paixão maior.
Foi presidente da A.E.B. durante muitos anos, período em que trabalhou intensamente, visando não apenas  a qualidade do time – que chegou a profissionalizar -, mas também criando uma estrutura tal no estádio que o transformasse em um lugar de encontro e lazer, prática e apreciação do esporte pelos bambuienses. 





Estádio da AEB. 



 Jogo AEB x Vasco da Gama
                                                                                    

Foi professor de Educação Física nos Colégios Domicilia Torres, Antero Torres e Belmiro Alves Pereira, incentivando os jovens e levando-os a vislumbrar caminhos saudáveis de vida, disseminando valores que eram inerentes à sua própria personalidade, como cooperação e solidariedade.  À época, era quem organizava os Desfiles de 7 de Setembro, envolvendo todas as escolas da cidade e fazendo disso um ato educativo, promovendo o crescimento cultural, social e cívico dos jovens, levando-os, através do esporte e das artes, à formação integral, tornando-os verdadeiros cidadãos bambuienses. A AEB foi uma extensão das escolas... ou as escolas foram uma extensão da AEB. 



 Elias Saade e time de alunos do Colégio Antero Torres - Bambuí - MG

“Lutei com a AEB, quase sempre desesperadamente, para conservá-la à altura das necessidades da juventude bambuiense e para honrar as suas tradições gloriosas, conseguidas desde os primórdios de sua fundação, defendendo, com sacrifícios incontáveis, o seu grande patrimônio de glórias, para satisfação de quantos, nesta terra, vêem no esporte uma fonte luminosa de aprimoramento do ser humano”. (Elias Saade)
Ah, a AEB!... Ali Elias foi presidente, técnico, pedreiro, motorista, tesoureiro – mais arrecadador de fundos que tesoureiro -, pai, amigo, e o que mais fosse necessário. Foi também nas quadras da AEB que ele realizou a primeira Exposição Agropecuária de Bambuí, iniciativa na qual foi pioneiro.
Sem contar com qualquer outro meio de comunicação disponível na época, manteve um serviço de alto falante, onde anunciava os jogos, informava, tecia comentários. “Ouvintes, Boa-Noite! No ar, Serviço de Alto falante Cacique, a voz amiga de Bambuí”. Comunicador e orador por excelência, fazia da AEB a sua temática principal, mas também prestava informações variadas e do interesse da cidade, divulgava eventos sociais e políticos, noticiava falecimentos, prestava homenagens, seja por iniciativa própria, seja atendendo a pedidos que lhe eram encaminhados pelo povo de Bambuí.


Desfiles de 07 de setembro.



 Parada 07Setembro 1952.

 Parada 7Setembro 1952- R.dos Expedicionários


Eliane, baliza, ao lado de Luciene, Aparecida Chaves, Ângela e Sônia- 7setembro 1964.
      

 A ocupação principal de Elias Saade foi como funcionário público; trabalhou na Coletoria Estadual, onde aposentou-se como coletor. Nesse órgão, então responsável pelas folhas de pagamento do funcionalismo estadual lotado em Bambuí, foi sempre receptivo às pessoas e teve contato direto com as suas dificuldades, problemas e necessidades, respondendo-lhes de maneira  solidária e posicionando-se como parceiro incansável na busca de soluções; tudo isso como pessoa altruísta e humana que sempre foi, e não se utilizando do cargo que ocupava.
Abraçava as causas pessoais de quantos o procuravam. Quando mudou-se para Belo Horizonte, foi convidado pela CAPEMI para gerenciar o Departamento Financeiro da sucursal de BH; esse convite se deveu à sua presença constante naquela repartição, ocasiões em que ficava evidenciada a sua competência na solução de demandas de pessoas de Bambuí. Havia se tornado, então, uma espécie de procurador de Bambuí, no que tange à resolução de questões pessoais de bambuienses em órgãos públicos e instituições de pecúlio e de previdência,  resolvendo pendências como aposentadorias, pensões, atrasos de  salários, minimizando transtornos e dificuldades de seus conterrâneos , pelo simples prazer em ajudar.
Falar de Elias Saade é falar de um homem que pouco tempo viveu – faleceu aos 59 anos -, mas que deixou eternizados na lembrança daqueles que tiveram o privilégio de conviver com ele os seus ensinamentos, sua sabedoria,  bondade e dinamismo. Suas idéias e ideais transcendiam a época, dado a sua enorme capacidade de vislumbrar o futuro e de inovar. Sua grandeza se deveu não a feitos extraordinários, mas às suas atitudes cotidianas de homem simples, generoso e solidário. Quando “inclusão social” era uma expressão desconhecida e prática inexistente não apenas em Bambuí, mas no Brasil como um todo, ele criou um espaço na AEB para que os internos da Colônia São Francisco de Assis pudessem assistir aos jogos: construiu uma arquibancada específica para aquelas pessoas, então evitadas pela população temerosa do contágio. 
Participou ativamente da política, engajou-se em várias campanhas político-partidárias, foi  vereador e presidente da Câmara Municipal, incentivador e partícipe de ações legislativas e administrativas que significassem benefícios para Bambuí. Destacou-se “por suas idéias brilhantes, por seu arrojo e destemor e ainda pela defesa dos interesses do povo”, conforme o Decreto Municipal 491/78 que dispôs luto oficial quando do falecimento de Elias.
Como homem público, teve seus opositores e críticos implacáveis, mas não cultivou desafetos, sempre agiu com integridade, fiel aos seus valores, aos objetivos de cunho social e aos princípios de lealdade nas relações com as pessoas.

Elias Saade foi casado com Elmi Montijo Saade, filha de Antônio Montijo, o maestro da banda que tocava no carnaval, na procissão do enterro, e em tudo o mais que houvesse. Ela foi criada pelo pai e pela avó, Marcionília Montijo (1ª professora de Bambuí),  visto haver perdido a mãe ainda criança. De família de tradição musicista, Elmi foi regente de um grande coral em Bambuí, que faria páreo a grandes corais conhecidos nacionalmente. Tratava-se de um coral misto, que chegou a integrar aproximadamente sessenta pessoas, sendo algumas delas: Oda Chaves (Dona Naná, que tinha uma voz maravilhosa), Lazarina Bernardes, as irmãs Naíde, Nieza e Nilza Chaves, Dona Jamile esposa de Omar Chaves, Dona Lucinda esposa do Dr. Maninho, Adalgiza Bastos, Dr. Jandir Chaves, Heloísa e Vânia Montijo, Nilma Magalhães, Elizete Saade... e muitas outras pessoas.

 Time de voley da AEB – Elmi Montijo Saade esq/dir/ a quinta.

Com Elias aposentado, a família mudou-se para Belo Horizonte em 1969, visando maiores oportunidades educacionais e profissionais para as filhas, então adolescentes. Por essa época, foi constatado que aquele grande coração estava por um fio; enfartes silenciosos e desapercebidos haviam danificado o tronco sustentador e os galhos de comunicação: apenas frágeis ramificações mantinham vivo aquele homem que sempre se revelou forte e sensível, ativo e receptivo; uma fortaleza sustentada apenas por  esses mínimos filetes  que inexoravelmente tentavam  levar oxigênio àqueles 1m90cm de um ser humano de qualidades incomensuráveis. Os últimos anos de vida de Elias Saade foram de muita apreensão para a família, enquanto que ele continuava a mesma pessoa que sempre fora, trabalhando até o último dia de sua vida.
Elias Saade faleceu em 21 de janeiro de 1978. No mesmo dia, 21 de janeiro, em 2002, faleceu Elmi Montijo Saade, também com problemas cardíacos.
Elias e Elmi tiveram três filhas: Elizete Maria Saade, Eliane Montijo Saade e Silva e Elen Montijo Saade, que moram em Belo Horizonte. Eliane é casada com Edelbrando Malaquias da Silva, que é natural de Divinópolis, mas conhece Bambuí, sua história, seus potenciais e seus percalços mais do que qualquer um dos bambuienses. Frequentemente viajam a Bambuí, especialmente para cuidarem da tia Nabiha Saade, não medindo esforços para que ela tenha a melhor qualidade de vida possível.
As netas, Thaís (filha de Elizete), Fernanda e Fabiana (filhas de Eliane), são naturais de Belo Horizonte, onde moram; mas tem um círculo de amizades significativo em Bambuí, cidade que visitam desde crianças.
Não seria exagero dizer que gostar de Bambuí é algo genético, ... ou contagioso!
Eliane e Elizete Saade

Agradecemos  a família Saade e em especial Elias(em memória), Elmi (em memória), e suas filhas Elizete, Eliane e Elen Saade, pela bela, brilhante e respeitosa participação, em Bambuí Fotos Memórias.

2 comentários:

  1. Parabéns pelas fotos disponibilizadas pela família Saade.
    Uma grande viagem no tempo.
    Aproveito o ensejo e parabenizo também a todos por manterem este excelente blog, onde eterniza a nossa querida e inesquecível Bambuí.
    Abraços a todos.
    Adriano - Bhte.

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  2. Obrigada Adriano, pela visita, e pelas palavras de incentivo. Abraços.Neide Franco

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