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sábado, 14 de janeiro de 2012

EURICO DE ANDRADE E SEUS CAUSOS E CONTOS....




Tabuí
Você já foi a Tabuí? Não. É claro que não. Tabuí nem está no mapa. Nem das Minas e nem das Gerais. Mas Tabuí está onde antes era Pau Branco, bem na beira do rio Sorongo. No lugar em que a coloquei. Num lugar onde só eu sei. Difícil é chegar lá se você não for muito atento. Tem de pôr muito sentido. Só uma estradinha que vai e volta servida por uma única jardineira diária. Tem também o trem de ferro que leva boi e minério pra baixo e combustível pra cima. Tabuí só fica vendo o trem passar. De vez em quando chega um ou outro passageiro no último vagão do trem. É o Misto. Misto de carga, minério, boi e gente. Nem sei porque chamam lá de cidade. Tão pequena ela é. Só umas quatro ou cinco ruazinhas e não mais que uns mil e mais alguns habitantes. Das ruas você vai conhecer duas: a do Assobio que é uma ladeira só - e que por isso engrossa as pernas das moças - e a do Comércio, onde, além de uma lojinha ou outra, uns botecos, umas biroscas e umas vendas, tem as mulheres que fazem favores e até caridade para aqueles homens pobres da pobre Tabuí. Abrindo a porta da zoninha você vai encontrar a Zildete, a Bastiana e uma ou outra que está lá de passagem juntando uma graninha pra ir pra Bel'Zonte. Povinho de Tabuí é gente boa que só vendo. Quase todo mundo de pobre pra baixo, mas conservando tradições que há muito sumiram da cidade grande. Gente muito religiosa, vivendo aos pés do Padre Anacleto que comanda a igreja matriz, a Conferência Vicentina, a Legião de Maria, a Irmandade do Santíssimo, as procissões, os costumes, as donzelas e aquelas não tanto, além do fusquinha velho. Em chegando na Santa Maria do Tabuí, hospede-se no Hotel Familiar. Não há escolha. É o único. Se você for amigo duma pinguinha, experimente a Providência, da própria terra. Não caia na besteira de falar mal da Providência que caem de pau em cima de você. Notícias e fofocas da região, música caipira da boa, além de umas musiquinhas muito fuleiras, você pode ouvir na emissora pirata que inventaram. É a Rádio Tocatudo falando pra Tabuí e para o mundo. Depois de gastar no máximo 23 minutos para conhecer a cidade andando a pé, você pode ir pra roça e apreciar a Perdição, o Pindura Saia, o Abacaxi e vai ver como essa gente vive, ama e sofre. A dificuldade é tamanha que aos poucos vai ficando mais ninguém por aquelas bibocas. Êxodo rural. Vão pra Tabuí e de lá pro mundo. Fazer a vida, nem que seja como a Ozária e a Jurema. E os que permanecem pela região estão cada vez mais cabisbaixos, desanimados, cheios de anemia, chistose, amarelão, raquitismo chagas... Banguelas também. Cada um mais que o outro. Voltando pra rua você encontrará outros personagens típicos de qualquer cidadezinha do interior. O doido, o candidato a político, os bêbados, os boêmios, os namorados, os apaixonados, os seresteiros, os da roça, os beatos, as beatas, os maníacos, os fantasmas, os sistemáticos, os forasteiros, os analfabetos, os simplórios, os simples, os pedintes, os pobres, os miseráveis... estes causos quase todos são inéditos, captados por aí a fora, num trabalho de garimpagem. Todos ouvidos da boca do povo e recheados com temperos peculiares! Portanto, caro leitor, cometa uma aventura. Faça de Tabuí o centro do seu mundo. Conheça essa gente viajando neste meu sonho!

Eurico de Andrade


Um cadim de mim

Um menino que nasceu e começou a crescer lá no interior do interior pescando piabas, traíras e chorões no anzol e no puçá... Pegando juritis e saracuras na arapuca... Chupando ingá, gabiroba, peidorreira, baco-pari, araçá, mangaba e cagaita... Montando cavalo em pêlo... Bebendo leite direto dos peitos de vacas, éguas, cabras e ovelhas... Comendo pururuca, angu com couve e torresmo... Morrendo de medo de assombração, evitando mato para não virar comida de onça... Fazendo promessas pra São Sebastião, São Jorge e Santa Bárbara... Garrando com o chefe de tudo quanto é santo para não deixar nenhum insatisfeito... Acreditando no coisa ruim, em mal-olhado, em assombração e no saci pererê... Curando cobreiro e inflamação de aroeira com a Maria Geroma, à custa de muita Ave-Maria e fio frio da faca afiada... Educado sob a batuta do chicote e ameaças de castigo de Deus, nosso Senhor... Trabalhando como candieiro guiando carro de boi... Trabalhando como meeiro e tarefeiro no cabo da enxada... Ajudando vaca na hora do parto... Vendo a Joaninha apanhando do Zé da Ponte do Bode enquanto ele cobria de mimos e beijos a mocinha Julieta... Bebendo chá de mané turé, carqueja, fedegoso, chapéu de couro, congonha... Comendo beldroega, broto de aboboreira, miolo de gueroba, frango com pequi, angu com quiabo, quibebe, inhame com leite... Assistindo a boiada passar... Vendo o trem de ferro apontar na boca de um corte e sumir na outra carregando boi, muquiça e gente... Vendo a enchente destruir as roças de arroz e milho do pai... Arrancando mandioca no muque pra farinha e o polvilho do ano... Fazendo paçoca de carne seca e socando arroz e café no monjolo de pé... Indo pra escola a uma légua de distância no cavalinho da orelha murcha... Convivendo e conversando com João Pelota, Zé Rosa, João Garrote, João Geada, Zé Ficiano, Zé Pelotin ha, João Garrotinho, João do Zé Ficiano, Zeca do Zé Ficiano, Zé Albino, João Miguel, Zé do Orico, Zé Taviano, João Vergina, Zé Cota, Zé Ramo, João do João Vergina, Severo... Só podia dar no que deu, no meio de tantos zés e joães : um escrevedor de coisas da roça.

....Quem conta um causo... Saio por aí a fora e entro discretamente em qualquer cantinho onde tá rolando uma boa prosa. E anoto tudo o que ouço para depois transformar em assunto pros meus causos e contos. Quase todos me foram contados e, como a maioria dos causos, a gente não sabe quem é o autor. Por isso, pode ser que o caro leitor já conheça um ou outro, talvez em versões diferenciadas. O meu intuito é registrar essas histórias/estórias a fim de que não se percam....
Eurico de Andrade é de Bambuí MG.
http://tabui.blogspot.com/
 Parabéns Eurico de Andrade. Aplausos. Voce merece! Abraços Nancy Neide F 

5 comentários:

  1. Só não gostei do relato modiq não tem lá contano um cadim de mim, se nois conheceu no siminario e nem o irmão Natal treminhou nos causo.
    Uai sô!

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  2. Não se preocupa não Manoel,eu sou irmãzinha do Eurico,também de Bambui,vivi com ele muitos desses momentos em seus causos,mas nunca mensionou meu nome...humm.
    Parabéns Eurico,estou muito feliz com essa divulgação. Voce merece.
    Beijos

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  3. Bom, meu querido "paipai" (assim escrevo, como vc sabe desde pequinininha, porque nao sabia escrever papai), nem preciso dizer o tamanho orgulho que tenho de vc, de ser sua filha, sua caçulinha, mesmo com dois pitocos depois... rs... Não nasci no interior do interior, mas vc sempre nos pôs (a mim e a meus irmãos) em contato com td que vc teve, essas coisas que “menino da cidade” não conhece! É bom lembrar que subi em árvore, comi fruta do pé, pesquei piaba, até escama de peixe grande já tirei (a cicatriz na minha mão, onde a escama entrou não me deixa mentir), tive medo de onça, quando nada mais era do que vc fazendo barulho pra assustar a criançada... Até galinheiro já construí, e olha que nem de galinha eu gosto... rsrsrs... catei minhoca pra servir de isca, levei picada de formiga e não chorei, é, realmente, tive uma infância muito feliz! Vc nos proporcionou uma infância sem tapas, beliscões ou gritos (não que eu os merecesse...), só umas “conversas” que davam muito medo, mas, que de fato, não eram tão ruins assim... É claro que, como cresci meio à inserção da tecnologia, não pude deixar de aproveitar vídeo-games, computador e o tão amado “pense-bem”, mas, o que eu gostava mesmo, era dos finais de semana no clube, aqueles que, em geral, eu esquecia de levar o biquíni, e nadava só de calcinha mesmo, sem nem me preocupar com isso ou aquilo, dos campeonatos de embaixadinha, premiados por picolés, das inúmeras vezes que vc dizia pra não entrarmos na piscina, e mesmo assim, a Fabiana de Andrade me jogava, ou, dos banhos de fanta laranja que o Fabio Andrade nos proporcionava! Sem contar dos “muitos” filmes (história sem fim e Jurassic Park 1...2...3...) que assistíamos nos fins de tarde. Sem contar ainda, as viagens para o interior, acompanhadas das inseparáveis muriçocas, ou aquela, que até resgate, com direito a boné pro alto, assim como nos filmes... rs! E as sopas? Bom, dessa parte eu não tenho saudade, não!
    Mas, se me perguntassem o que mais gosto em vc, talvez não soubesse responder, talvez, eu dissesse que é td, mas, td não pode ser... Seriam as lembranças de formigueiro, banho de mangueira, bacia, e afins? Seriam as rondas de fotografia, na esplanada? Seria todo o valor que vc me ensinou a dar ao estudo, educação (isso de fato, aprendi e carrego comigo sempre)? Seria o modo de falar, o tom de voz, a parcimônia? Hm, não sei, mas, sinceramente, acho que o que mas gosto “nocê”, é o simples fato de ser meu “PAIPAI”, de me apoiar e estar sempre comigo, enfim, tenho mesmo, muito orgulho de ser sua filha! TE AMO, PAIPAI!!!

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  4. Manoel e Eunice. Obrigado pelos comentários. Vocês talvez nem se lembram, mas vocês se conhecem, lá de Bambuí. Botem a cuca pra funcionar. Abs.

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  5. É a perfeita descrição de uma pequena cidade de interior.

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